2ª POSTAGEM
Queridos Leitores,
Quero presentear vocês com o meu conto de estréia na literatura, no ano de 1992. Primeiro conto que escrevi, antes só escrevia romances, nem sabia ainda que tinha o talento da escrita. Esta foi a minha grande descoberta.
Este conto foi feito para uma amiga que não tinha uma boa redação e me pediu ajuda. Lembro bem, a Keith, que era minha vizinha, levou para a professora, como se fosse ela que o tivesse escrito. A professora achou que foi o melhor conto da sala, depois foi escolhido o melhor conto do instituto de ensino, por fim ficou exposto na Feira de Cultura, do colégio.
Foi a causa de não parar mais de escrever.
UM DIA, O RISO... O OUTRO, A DOR”.
Viviam numa cidade duas pessoas de origem muito diferente. Um rico; um milionário, até avião tinha; outro tão pobre que vivia á beira da calçada.
Dr. Plínio, até o nome era de rico, soava assim... Plínio Albuquerque. E o pobre João, como milhões de Joões quaisquer.
João vivia dias e noites na porta da mansão de Plínio. Que rico e insensível, não deixava que nada de sua casa saísse para o pobre. Dizia ele: - Se esse mendigo for mal acostumado, não sairá mais de minha porta.
João era um homem que, além de pobre, era cínico, mesmo com as palavras sempre rudes que ouvia de Dr. Plínio e as negativas, quando lhe pedia algo. Mesmo assim não desistia. Toda vez que o via sair em sua limusine o assediava para pedir-lhe dinheiro, roupas. E comia de sua comida, dada pela sua empregada, às escondidas...
Ficava no muro de sua casa, pelas grades via a festa que dava, o tanto de gente que recebia. Tudo grandioso, comida á vontade. E ele se divertia, tentando se colocar no lugar de Dr. Plínio, no seu sonho, ele era rico.
Mas um bem chegado dia... Cansado de tanto negar, o doutor o serviu. Chamou-o em sua linda mansão... Deu-lhe umas roupas, dois pares de sapato usados mais em bom estado; algum dinheiro. João ficou feliz!
- Hoje você está com sorte, estou feliz! Ganhei uma fortuna no jogo, vou lhe dar um presente, dos bons – disse ele.
João pegou as roupas, comeu um apetitoso prato de comida na cozinha e se foi.
O pobre João teve um dia de lorde. Vestiu a camisa de linho bem talhada, a calça de terbrim; calçou os sapatos novos. Foi gastar o pouco dinheiro que tinha num bar.
As pessoas que não conheciam a origem do mendigo pensavam ser um ricaço que havia se perdido num boteco daquele.
- Compre um bilhete da loteca! Compre você pode ser o próximo ganhador, olha a loteca aí, loteca! – chegou no bar um cambista, vendo o homem bem vestido.
- Oh! Bacana, o senhor não quer comprar um? – perguntou.
João servindo-se de uma cerveja, falou: - Pra que vou querer um?
- Sei, bacana, dinheiro aí deve estar saindo pelo ladrão, mas... Um dinheirinho a mais sempre é bom. Toma, compra, só sobraram esses dois.
João pegou o bilhete, o dinheiro que tinha agora só dava para comprar um. Pegou e sem nem mesmo escolher o número pagou e enfiou no bolso.
João voltou á sua calçada. O Dr. Plínio continuava passando por ele, virava o rosto, como se nunca o tivesse visto antes.
Depois que os trocados que Dr. Plínio lhe deu acabou sua única esperança, era o bilhete que trazia sempre no bolso. Até que no sábado, veio a enorme surpresa... João ganhou uma grande bolada na loteca. Ficou rico, não como Dr. Plínio, mas, para quem já tinha conhecido a fome de perto, era demais.
Com o passar dos dias, João modificou toda a sua vida. Comprou uma casa enorme; reuniu vários mendigos e foram morar todos juntos.
Os anos se passaram e Dr. Plínio começou a falir; primeiro teve que vender sua empresa, depois seu avião por fim, seus automóveis. Também seu vício em jogo, foi o que mais o levou á ruína. Quando se deu conta, até sua casa tinha perdido. Seus lindos móveis, os donos de cassino vieram buscar.
Já velho, sem trabalho, sem casa e sem amigos. Foi procurar emprego.
Andou muito e já cansado e sem dinheiro; o que tinha só dava para passar mais uns três dias. Viu uma placa, numa rua “Se precisa de ajuda, emprego, abrigo ou conselhos, estamos aqui para servir!...”
Tocou a sineta e foi atendido por um homem vestido simplesmente. Era o João; ele não o reconheceu, afinal não olhava na cara de ninguém que não o interessasse, mas o João o reconheceu na hora.
- Dr. Plínio, é o senhor mesmo?- falou com alegria – É o senhor Doutor?- voltou a perguntar.
Envergonhado Dr. Plínio falou:- Pode tirar o Doutor, agora sou apenas o Plínio, sem dinheiro e sem amigos. Estou procurando emprego.
João abriu a boca de espanto. - Você trabalha aqui, sabe se tem vaga?- perguntou Plínio.
- Não tem vaga, mas se quiser entrar, vamos - entreabriu o portão.
Ele continuou – Eu estou precisando de emprego, de onde morar...
- O que? O senhor não mora mais naquela mansão?- perguntou surpreso.
- Não, eu perdi tudo.
Olhou a enorme casa - É que, quem sabe eu falando com o dono. Ele me arranja um emprego, eu tenho necessidade de conseguir algo para fazer.
- O dono sou eu - falou João.
Dr. Plínio parou, ficou mudo alguns instantes - Então eu vou voltar daqui mesmo. Imagine se você me arranjaria algo, depois de tudo que eu lhe fiz.
- De jeito nenhum, pode ficar e como meu convidado.
- Mesmo depois de tudo que lhe fiz?
- Eu... Julgar-lhe, está brincando. O senhor já vai ser julgado por Deus, lá em cima - apontou para o céu - Quem sou eu para julgá-lo primeiro que Deus?!
João mostrou ao Plínio o que havia montado; um centro para pessoas que viviam na rua. Todos trabalhavam e se mantinham. Aprendiam uma profissão. Ele dava moradia, medicamentos e tudo o que mais precisassem.
Você não tem medo que seu dinheiro acabe você dando a todos esses necessitados?- perguntou Dr. Plínio.
João sorriu:- Para mim que já passei fome e miséria, é o melhor que posso fazer. Para quem já viveu como eu vivi, isso aqui é o paraíso. Para o Senhor é diferente, acostumado com carros, avião. Não dava nada a ninguém com medo de perder e acabou perdendo tudo. Agora estar aqui, passar a conviver com mendigos, para o Senhor vai ser uma tortura. Mas vou lhe confessar, não tenho medo não. Agora sei de uma coisa; estando o Senhor aqui, tenha medo o Senhor de meu dinheiro acabar, pois sua mansão não vai estar lhe esperando, se isso lhe acontecer, mas, aquela calçada em frente á sua casa, com certeza vai estar lá... Me esperando.
Janduí Macedo